Bem sei que sou suspeito quando começo a desbobinar sobre o lars von trier.
Gostando de cinema como gosto, acabo por desenvolver uma feroz adimiração por todos aqueles cineastas que têm um universo próprio, ao contrário dos tarefeiros de ocasião (brent rattner e mcg porque vos deixam entrar num set?hm?).
No caso do von trier, é cada vez mais notório o tema da paranóia e da neurose.
Sempre foi aliás. Se no "europa" por exemplo a coisa ainda assumia um carácter colectivo (a ameaça nazi), a partir do "breaking the waves" esse espaço de análise reduz-se ao indivíduo. À sua incapacidade de lidar com os demais, com os estímulos exteriores.
Resta o personagem à deriva num espaço para ele incompreensível.Pelo que só lhe resta a modelação violenta do mesmo segundo os seus padrões internos ("dogville"), a conformação ("breaking the waves")ou a total surpresa resultante do choque aquando da percepção de um novo mundo (por si?)gerado (o final do "anticristo").
Em "melancholia", justine vítima de profunda depressão é confrontada com as regras impostas pela normalidade.O casamento, a estrutura familiar, a autoridade patronal.
À medida que avança numa espiral entrópica, a própria natureza a acompanha.
O planeta que se aproxima da terra e que promete tudo destruir acaba por ser símbolo da sua angústia.
O movimento de aproximação de melancolia (o planeta)em direcção à nossa esfera azul, aumenta na respectiva proporção em que justine se sente cada vez mais distante dos demais.
Se em outros filmes de von trier, a voz da maioria ganha por ko técnico (afogando o esforço do personagem), em "melancholia" surge uma espécie de vingança.Aos ditos normais e enquadrados só lhes resta a saída da fuga para a frente, do suícidio.
É o incompreendido que arrasta todos os demais.Até ao fim do mundo.
Obra prima, obra prima, obra prima.
Mil vezes genial.
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